Fomos de Cangalho

Fomos eliminados pela Alemanha num grande jogo de football. Eu diria que Portugal jogou melhor, e que foi um jogo resolvido nos pormenores, uma vez que no geral, Portugal atacou mais e melhor que a Alemanha. Para a história vão ficar obviamente os pormenores, mas a exibição colectiva foi de qualidade. O espectador desinteressado, que não fosse torcedor de nenhuma das duas equipas, provavelmente ficou muito agradado. Era uma equipa a marcar, e a outra a fazer tudo para ir atrás do prejuízo com bom football de ataque. Imagino que esses espectadores emocionalmente imparciais, estivessem todos a torcer por Portugal, por ter sido a equipa menos cínica e com mais alma. É o que pelo menos me acontece, quando vejo uma selecção com menos currículo a bater-se contra um colosso, de peito aberto e com espírito de conquista.

Não tenho tido tempo para comentar mais jogos, e não comentei a última jornada da fase de grupos de Europeu, devido a compromissos diversos, no entanto a principal conclusão que tirei do jogo com a Suiça, foi que a segunda linha de jogadores Portugueses, estava ainda muito distante da primeira. Para quem ainda tinha dúvidas, ficou-se a perceber porque Bosingwa, Petit, Deco, e Nuno Gomes eram titulares. Jogadores como Bruno Alves, Miguel, Veloso, e Meira, mostraram que não podiam ser mais que segundas linhas neste Europeu.

Portugal lançou-se para o jogo contra os Alemães com o melhor onze, e é assim que jogam as grandes equipas, sempre com os melhores, e sem compromissos que permitam encaixar no adversário, mas que alteram os fundamentos e princípios de jogo duma grande equipa. A verdade é que se tirássemos os três golos dos Alemães do resumo do jogo, a ideia que ficaria é que Portugal foi de longe a melhor equipa. Mas é assim o football, nem sempre o melhor ganha. Se num campeonato de regularidade, os tropeções são compensados, e geralmente a melhor equipa é a que vence, numa competição a eliminar com toda a emoção que tem, é muito fácil que uma equipa mais forte, possa ser eliminada prematuramente. Ninguém deve por isso ficar envergonhado do que Portugal fez, as bases estão lançadas para o futuro, e imagino que a geração de ouro não terá fim.

E o que dizer da exibição de Deco? Que portento de football. Provavelmente conquistou a transferência, para o clube que ele escolher. Pepe foi até agora o melhor central do Europeu.

Os treinadores de bancada, vão agora dissecar o jogo, e procurar razões para a derrota. Vão enumerar erros, e vão utilizar clichés. Parece-me que ainda não perceberam o jogo de football. É um jogo, e não uma ciência exacta. Por vezes não existe nenhuma explicação óbvia e singular para uma derrota (ou uma vitória), é apenas um resultado da imprevisibilidade do caos, e do indeterminismo. Já vi por aí elogios, à superior colocação do meio campo Germânico, quando o que vi, foram os Alemães a serem trucidados por Petit, Meireles, e sobretudo Deco no miolo.

Houve um erro individual de Paulo Ferreira no primeiro golo, ouve erros no segundo golo, na marcação a Klose e na saída de Ricardo, e ainda um empurrão que passou em claro ao árbitro no último golo da Alemanha. Tudo isto são erros que acontecem às dezenas nos jogos, e que muitas vezes passam sem serem analisados tão-somente, porque não resultam em golo. Paulo Ferreira podia ter-se deixado antecipar em inúmeras jogadas, e Ricardo podia ter saído mal em diversos cruzamentos, foram-no em jogadas de golo. É assim o football. A Alemanha é um justo vencedor, mas não mostrou ser melhor. Em equivalência aos lances de golo dos Alemães, Moutinho e Pepe tiveram duas ocasiões, onde os erros defensivos da equipa Germânica não deram golo por manifesta sorte. Não faz sentido por isso culpar Ricardo agora que Portugal foi eliminado. Ricardo sempre foi bastante hostilizado pela crítica, e respondeu sempre nas fases finais, com exibições positivas. Este Europeu menos positivo do guarda-redes vai agora servir para enaltecer o orgulho intelectual de muitos críticos de “bidé”. Se Ricardo tivesse feito um excelente Europeu, essas mesmas pessoas teriam a cruel esperança que numa outra fase final, Ricardo vacilasse e lhes desse algum orgulho intelectual. Não devia ser assim!

À posteriori será muito fácil criticar Scolari, depois do anúncio da ida para o Chelsea, da discussão da altura média, e dos erros individuais de Paulo Ferreira e Ricardo. Mas foi Scolari que nos colocou na rota de títulos, e principalmente, acabou com os regabofes que eram até aí as nossas selecções. Scolari acabou com os blocos internos, e aumentou de tal forma as expectativas, que achávamos todos que íamos ser campeões Europeus. Mesmo assim imagino que vão chover críticas destrutivas, ao trabalho de Scolari na selecção. Andavam todos esses pseudo entendidos à espera duma fase final abaixo das expectativas para poderem criticar Scolari pelos resultados. Até aqui tem criticado muito, e depois tem-se remetido ao silêncio, Scolari respondia sempre com resultados positivos inequívocos. Ainda assim alguns tiveram coragem de os relativizar. Aqui sou sincero, nunca vibrei especialmente com a selecção, mas talvez por isso, até tenho alguma imparcialidade e distância, para ter a cabeça fria, para poder avaliar o trabalho de Scolari. É com certezas que digo que foi o melhor seleccionador que vi a treinar Portugal. Só me compete dizer uma coisa:

- Obrigado Felipão!

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