Apito Final: Consequências e Limpeza

Já tenho dito várias vezes, que não me agradam as decisões de secretaria que intervêm com o normal funcionamento da competição. Até compreendo que tem de haver rigor na abordagem de uma competição que se quer sadia e honesta, mas fico sempre triste com este mal, talvez necessário, admito, que são as intervenções na competição por decisões administrativas e não pelo jogo dentro das quatro linhas. Fiquei triste com a despromoção do Gil Vicente, não me agrada a subtracção de pontos ao F.C. Porto e Belenenses, nem tão pouco concordo com a despromoção do Boavista.

É que eu como associo a corrupção ao factor humano, e não às instituições e clubes, o que vejo é que o Porto como instituição é “protegido” (porque acumulou pontos de vantagem mais que suficientes para a penalização), e o Boavista que me merece igual respeito e os seus adeptos, são os prejudicados, que quando escolheram democraticamente o seu presidente não lhe pediram que se fizesse valer de actos corruptos para beneficiar desportivamente o clube. O Boavista desce de divisão, num momento penoso da sua história. É que com a manutenção, a venda de alguns passes, e um orçamento muito reduzido para a próxima temporada, o Boavista podia até conseguir sair do buraco escuro onde as anteriores direcções o deixaram. Mas com esta decisão, e a demissão em bloco dos dirigentes do clube, podemos ter mais um histórico clube a desaparecer.

Há até quem apenas ficasse satisfeito com a despromoção do F.C. Porto. Não é o meu caso. Senão vejamos o que aconteceu no campeonato Italiano, que hoje é apenas uma sombra do que já foi. Os adeptos de football que seguem as ligas mais cotadas do mundo aglutinam-se à volta da Premier League, e deixam o Calcio para um terceiro plano, atrás da Liga Espanhola. O Calcio perdeu nos últimos anos, com a intervenção da justiça desportiva italiana, muita da sua força. Os castigos aplicados aos clubes, tiraram adeptos estrangeiros que se interessavam pela competitividade do Calcio, porque não existe competitividade em Itália sem Juventus, nem com o Milan a começar com um handicap desportivo de pontos negativos. Como não existe competitividade em Portugal sem um dos três grandes a competir na Superliga. Não ficava nada contente em que o Benfica fosse campeão, sem que para isso tivesse de se superiorizar ao F.C. Porto.

Os regulamentos que existem têm de ser aplicados obviamente, mas tinha preferência por medidas disciplinares bastante mais gravosas para os agentes desportivos, e menos comprometedoras para os clubes. Neste caso, sou da opinião que Jorge Nuno Pinto da Costa, Valentim Loureiro, João Loureiro, e Bartolomeu Dias deviam ser erradicados (eu sei que tal medida punitiva não está prevista nos regulamentos). Poupavam-se os clubes e adeptos a punições desportivas por situações que lhes são completamente alheias e regenerava-se definitivamente o football Português. O problema não são os clubes nem as estruturas, mas a nossa classe dirigente, que de uma forma geral limita até o potencial do nosso football, que é um dos motivos de orgulho do país.

É que afinal, tudo isto apenas desprestigia o nosso football. Independentemente das punições da CD, o mais preocupante, é que os agentes envolvidos neste processo, admitem a recepção de árbitros em casa de presidentes de clubes, e ainda ninguém veio desmentir a veracidade das escutas, preferindo para defesa, discutir a sua validade nos processos. Do ponto de vista legal, isto pode até fazer sentido, do ponto de vista de adepto, isto demonstra a falta de ética em que o nosso football tem vivido nas últimas décadas.

Sem comentários: