Na sequência da presença de Paulo Bento no programa da RTPN Pontapé de Saída, onde esteve em análise o sistema táctico do Sporting, lembrei-me de comparar os problemas tácticos dos grandes de Lisboa esta época, e reparei que são completamente diferentes. Os problemas tácticos do Sporting são aliás a antítese dos problemas que o Benfica tem.
O Sporting joga em 4-4-2 losango, usa sempre o mesmo sistema, com movimentações trabalhadas, e tem os jogadores com rotinas para as posições nesse sistema, sendo que alguns jogadores estão já habituados a fazer mais do que uma posição da táctica habitual. Todos os jogadores sabem exactamente o que fazer porque é assim que têm jogado sempre. O Sporting abdica de procurar no mercado extremos, ou jogadores que possam fornecer largura, e permitiu a saída de Nani que era o jogador que maior alternativa táctica permitia uma nuance de largura para o jogo exterior.
O Sporting joga melhor contra equipas favoritas, e vacila contra equipas de médio plano do panorama nacional.
Parece-me evidente que o Sporting e o seu sucesso contra equipas fortes, principalmente da Europa, se deve a uma qualidade de jogo assente no trabalho executado no treino, e na mecanização e rotina de um fio de jogo usado à várias temporadas. O sistema de 4-4-2 utilizado pelo Sporting é de resto um dos preferidos dos estudiosos do football, por ser um sistema de equilíbrios e onde a equipa bem articulada dificilmente cai em descompensações. É um sistema onde a capacidade dos jogadores de meio campo permite aliás encaixar em equipas fortes. Permite com a utilização de jogadores que por serem bastante completos, conseguem anular sistemas de equipas favoritas.
O problema é que o sistema está tão estampado na estratégia do Sporting, que a nível interno, equipas menos favoritas, que não fazem do controlo de jogo a sua estratégia, conhecem bem a dinâmica do Sporting, e alteram a sua estrutura para encaixar no sistema táctico do Sporting. Conseguem assim facilmente anular as mais valias e explorar os pontos fracos. O problema do Sporting a nível de sistema, é para mim o excesso de mecanização e rigor táctico, que tapam um pouco a criatividade e dinâmica espontânea que o seu sistema devia também ter. A nível de interpretação individual, Moutinho seria à partida o elemento mais criativo. No entanto devido a uma polivalência que lhe permite fazer no meio campo todos os lugares, e devido à especificidade de alguns dos seus colegas de equipa (caso de Romagnoli), acaba por ter de fazer posições, que cumpre com competência, mas onde não pode, por motivos de posicionamento táctico, dar tanta criatividade ao jogo do Sporting. O lugar onde Moutinho se realiza melhor, é quanto a mim no lugar onde Paulo Bento muitas vezes faz alinhar Romagnoli.
No Benfica é precisamente o oposto. Esta época já jogou em 4-4-2 losango, 4-4-2 aberto, 4-4-2 assimétrico que se dobrava em 4-3-3, 4-1-4-1, e 4-2-3-1. Não existe um sistema predominante, não existe fio de jogo, nem se observam quaisquer tipos de movimentos predominantes e mecanizados que sejam consequência de trabalho no treino, e nos jogos anteriores. Devido à inexistência de tudo aquilo a que se chama colectivo, o Benfica apresenta muita falta de qualidade no seu football. Joga melhor fora de casa, onde tem menos favoritismo, dependendo de lances de bola parada para ganhar os jogos, onde a qualidade individual de execução dos protagonistas se demonstra.
Por outro lado a falta de jogadores e alternativas para jogarem nas onze posições de um determinado sistema táctico pré-definido (consequência de uma época mal planeada), levam a que o Benfica utilize diferentes sistemas consoante os jogadores disponíveis, e a sua forma. O Benfica está portanto dependente da inspiração dos seus jogadores, e da qualidade individual dos mesmos, que se manifesta nas bolas paradas, e em rasgos dos seus jogadores mais maduros.
Lembro-me da célebre discussão entre Rivaldo e Van Gaal. Alegava o jogador que uma equipa grande deve ter um sistema definido e deve jogar sempre da mesma maneira, e que compete ao adversário com menos favoritismo alterar a sua forma de jogar, de forma a tentar anular a superior qualidade da equipa favorita. O treinador contrapunha que para um sistema táctico ter uma estratégia de jogo, devia sempre existir o estudo do adversário e das condições do jogo para potenciar a sua maior qualidade e utilizar todas as alternartivas e mais-valias do plantel da equipa favorita. Provavelmente no meio-termo está a razão. Uma equipa grande deve ter um sistema definido sem alterações radicais na táctica e estratégia, mas os jogadores devem conhecer o adversário, e devem apresentar pequenas nuances tácticas na dinâmica dos sistemas, que permitam ao próprio sistema uma criatividade ao longo da época, e criar no adversário roturas inesperadas.
1 comentário:
Falando do Sporting o problema está no que disseste, excesso de mecanização. Fica tudo nas suas posições ninguém se movimenta, fica um jogo previsível e sem nenhum rasgo ou mudança de velocidade porque não há jogadores para isso. E contra equipas fechadas como é quase impossível marcar um golo a jogar desta maneira, a não ser de bolas paradas, que para ajudar à festa o Sporting não tem rendimento nenhum (só se fôr a sofrer) acaba por ficar refém do 0-0 e se sofre um golo adeus.
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