Benfica: o futuro

O Benfica joga esta jornada o segundo lugar, sem que os Benfiquistas saibam ainda qual o futuro treinador do Benfica, admitindo que Chalana não continuará para além do final da temporada. Com a demissão de Camacho o Benfica terá ganho tempo para fazer a escolha. Mas mais que um treinador o Benfica precisa de definir o projecto de futuro, um modelo, uma filosofia.

Não faz muito tempo que (com a melhoria das infra-estruturas da formação do Benfica), se iniciou uma política ambiciosa de formação, em que supostamente o clube apostaria num modelo de jogo uniforme entre a equipa principal, e os escalões de formação, tendo como objectivo a melhoria da ligação entre a equipa e a formação, e potenciar e facilitar o lançamento na equipa profissional dos jovens formados pelo clube. O modelo escolhido foi o 4-3-3, e entre entrevistas aos responsáveis da formação e ao Presidente entendia-se que este teria sido um dos mais importantes passos do Benfica nos últimos anos.

Como opinião pessoal, diria que o 4-3-3 é o meu esquema preferido, quando jogado com um pivô singular defensivo, à semelhança do que acontece no Porto. Permite um football ofensivo (que é o que se pretende num football macrocéfalo como o Português, para as equipas grandes), com a utilização de extremos e jogadas de bom football, e onde a subida dos interiores, e o movimento interior de um extremo mais polivalente, pode facilmente criar soluções na área (à semelhança do que Lisandro faz no Porto). A tripla do miolo, e a competitividade dos médios interiores, e a utilização porventura de extremos com capacidades defensivas podem também servir em jogos mais complicados na Europa onde se defrontam equipas muito poderosas.

Imediatamente depois de tanta auto-propaganda à nova era da formação chegou Fernando Santos, o Benfica contava perder Simão, e tinha Rui Costa, Petit, Katsouranis, Nuno Assis, Karagounis e ainda Karyaka. . A dupla de avançados Nuno Gomes e Miccoli parecia mecanizada. Nem Manu nem Paulo Jorge convenciam, e Geovanni saiu do clube inexplicavelmente. Naturalmente o treinador do Benfica decidiu que o sucesso imediato do Benfica passaria por outro sistema de jogo, e já se sabe que ao treinador são pedidos resultados imediatos. A verdade é que todas as condicionantes ao seu trabalho o empurravam para o 4-4-2 semelhante ao que já tinha implementado no Sporting anos antes. Para mim o erro do Engenheiro terá sido quando se soube que afinal Simão ficaria no clube, Fernando Santos devia talvez ter deixado cair o seu sistema preferido, e voltar a um 4-3-3. A utilização deste sistema “manco”, entenda-se com apenas um extremo, não era inédita, e relembro-me de alguns jogos do Porto de Mourinho com pleno sucesso. Simão oferece garantias de poder jogar em ambas as alas, o que facilitaria a utilização de apenas um extremo de raiz. Fernando Santos entendeu continuar com o sistema da sua preferência. O Benfica adiava um ano o “Projecto 4-3-3”.

No ano seguinte o Benfica deixava sair Simão, Paulo Jorge e Manu não iam fazer parte do plantel, nem tinham qualidade para tal, e o único extremo natural que o Benfica tinha era Di Maria, um jovem com imenso potencial, mas com 19 anos e que vinha tarde e lesionado. Apesar do tempo que Luís Filipe Vieira teve para construir a equipa em torno dum modelo de jogo, o projecto amplamente divulgado, pouco mais de um ano depois era protelado pelo menos mais um ano, ou mesmo esquecido, porque no Benfica de Luís Filipe Vieira todas as épocas (e a meio das mesmas) se iniciam ciclos novos.

Li recentemente que Rui Costa definiu novamente o 4-3-3 como sistema de jogo do Benfica do futuro. E é assim que tem de ser numa equipa grande, a estabilidade e continuidade parte também das filosofias e métodos, antes de depender só da continuidade das pessoas. O Benfica deve apostar num projecto de football moderno e atacante, que não seja alterado todos os anos. O treinador que vier, além de competente, e que terá certamente as suas ideias, deverá aceitar uma ideia de football pré-definida, e alterações dramáticas no modelo de jogo, devem ser vistas como excepções particulares, e não como solução de futuro.

Sem comentários: