Apito Final: Justiça Desportiva vs Justiça Civil

Parece que os processos da Comissão Disciplinar da Liga, vulgo justiça desportiva, vão mesmo avançar. Foi uma promessa feita pela liga e pelo órgão de disciplina, que tudo estaria resolvido até ao final da presente época.

Pessoalmente estou muito mais interessado na justiça desportiva que nos tribunais civis. A justiça dos tribunais é infelizmente lenta, e tem de prever de acordo com direitos de democracia livre, que se prove para além de qualquer dúvida a culpa dos arguidos. Porque supostamente vivemos num mundo livre, existem tramites legais que nos protegem a todos, e que por vezes protegem aqueles que são culpados. Nos tribunais fará sentido a discussão da legalidade das escutas telefónicas, mas a justiça desportiva, pode recolher todas as provas que bem entender para fazer a acusação.

Sabe-se até que como especialista de arbitragem, foi chamado a tribunal o árbitro Vítor Pereira, para atestar sobre as decisões de arbitragem dos jogos em questão. Parece-me isto altamente irregular, porque Vítor Pereira, não me merecendo qualquer tipo de dúvida em relação à sua seriedade, é o actual Presidente do Conselho de Arbitragem da Liga. E o mesmo já tinha decidido de acordo com as suas competências como chefe da arbitragem, manter alguns dos árbitros visados no processo, no activo. Se Augusto Duarte, envolvido no processo apito dourado, continua a apitar, até em jogos grandes, por decisão de Vítor Pereira, como se espera imparcialidade em tribunal, contra um dos seus “empregados”, e para todos os efeitos contra a classe de que fez parte, e instituição que preside. E ele mesmo Vítor Pereira estava activo como árbitro enquanto muitos destes esquemas do football Português existiam. O “Sistema” existiu, e a chamada a tribunal de qualquer dos seus agentes, ainda que inocentes, para como especialistas testemunharem sobre o “burgo” de que fizeram ou fazem parte, contra ou a favor de árbitros que são ou foram colegas, e que são ou foram “empregados”, parece-me ridículo, e que é permitir que possivelmente algumas forças do “Sistema” possam também exercer influência dos tribunais. No mínimo Vítor Pereira estaria como testemunha em tribunal, a defender a decisão de permitir a estes árbitros que continuem a apitar. O Tribunal se queria um especialista em arbitragem para falar sobre as gravações dos jogos em questão, devia ir buscar alguém estrangeiro completamente independente.

Estou também mais interessado na justiça desportiva, por comparação com Itália, onde, ainda que num órgão diferente e inexistente em Portugal, o tribunal desportivo, na sequência do Calciocaos, o resultado não deixou margem para dúvidas - equipas despromovidas, e medidas suficientemente drásticas para que, pró-activamente, de futuro, faça qualquer agente desportivo pensar duas vezes antes de agir ilicitamente.

Acima de tudo acredito que o football deve ter a capacidade de se auto-regular. Por uma questão de credibilidade e qualidade do produto que vende, tem de ser o próprio football a “desmarcar-se” daquilo que tem sido a pandega dos últimos anos, com os mesmos intervenientes pouco credíveis, a contribuirem para o descrédito da competição e do desporto.

O preocupante em Portugal, é que aconteça o que acontecer na aplicação destas penas, vai tudo ficar mais ou menos na mesma. A ideia que fica, é que vale a pena falsear a verdade desportiva porque o castigo pode encaixar em situações de completa falta de relevo prático. Se assim for os adeptos do football vão ficar novamente com aquela sensação de que ficou tudo na mesma.

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