Trivela

Mais uma vez o génio individual de Quaresma resolveu uma partida para o FC Porto. Não era uma partida qualquer, mas um clássico (e já não é o primeiro que resolve) que poderia relançar a discussão do campeonato, ou tirar-lhe interesse como veio a acontecer. A vitória é justa, mas o Porto não fez assim tanto mais para justificar a vitória em termos colectivos. Em termos individuais Quaresma pode andar apagado nos jogos em que o Porto ganha calmamente, mas nos momentos decisivos aparece, e resolve.

O Benfica entrou dando ideia que ia dominar o jogo, e dispôs da primeira grande oportunidade de golo, ainda o jogo ia nos 53 segundos, por Nuno Gomes, que tradicionalmente falhou. É exasperante como um jogador consegue ser tão completo em múltiplos aspectos técnicos e tácticos do jogo, e ao mesmo tempo consegue falhar na simplicidade de execução da jogada mais importante no football, que é a jogada de golo. Não tenho dúvidas em afirmar que se a modalidade não tivesse balizas Nuno Gomes era certamente dos melhores avançados do mundo, mas assim...

Após a situação isolada que foi esse primeiro lance, o Porto impôs-se em campo e ganhou pelos flancos e pela coluna central o controle do jogo em toda a primeira parte. Nos extremos o Porto com o irrequieto e irreverente Tarik, e o espectacular génio de Quaresma, ia conseguindo trazer o jogo para os flancos, e o Benfica com Luís Filipe que voltou a estar desajeitado, ia mostrando imensas fragilidades. Mas não foi só Luís Filipe a jogar mal, Rodríguez esteve irreconhecível, não conseguindo fechar o flanco às entradas de Bosingwa, sempre desatento, e nem a atacar conseguiu produzir algo digno de registo. Rodrigéz é um jogador com excelente drible, mas ao encontrar um defesa direito como Bosingwa, que é destacadamente o melhor Português na posição, tem de conseguir encontrar no jogo colectivo maneiras de conseguir participar nos lances ofensivos. Tem de aprender a largar a bola. Ao invés optou sempre pelos lances individuais, que Bosingwa facilmente resolveu, e ainda por cima ainda permitiu ao possante lateral atacar sem oposição, quando se posicionou em terrenos centrais, para desespero de Camacho que constantemente tentava dar-lhe indicações.

Se formos a analisar o miolo, existem semelhanças entre as duas equipas, Paulo Assunção joga como pivô defensivo, sem a cultura de passe de Petit é certo, mas sempre muito eficaz. Há Lucho, que é um organizador, com maior capacidade defensiva que Rui Costa, mas sem a sua classe na distribuição e leitura de jogo. Onde existiu um grande desequilíbrio foi no chamado médio de transição, porque o FC Porto tem um, e o Benfica não (pelo menos em campo). Raul Meireles é um médio, capaz de defender, atacar, passar, transportar a bola e estar sempre disponível para receber a bola e criar espaços. Não é um virtuoso, não se espera dele uma jogada fenomenal que possa desiquilibrar, mas estando sempre disponível para atacar e desmarcar-se, abre linhas e espaços para que jogadores como Quaresma possam brilhar, além disso é um excelente atirador de longa distância. Nem sequer esteve em particular destaque nesta partida, mas por oposição a Katsouranis é uma “loiça” completamente diferente. O Grego é muito bom no desarme, mas a largura do seu jogo é ridiculamente pequena a comparar com a do médio do Porto. Disfarça pelas situações de concretização que cria quando aparece em bolas paradas, e em situações pontuais de ataque, porque tem sentido posicional para aparecer sempre que sai da sua minúscula área de influência. Fora situações particulares em que até consegue marcar golos, e fazer desarmes bonitos para o público, está sempre “fora de jogo”. É comum vermo-lo a apontar para colegas seus, quando se encontra marcado, a tentar mostrar ao portador da bola soluções de passe. Pior do que isso, e isto não deverá ser culpa sua, tacticamente colocou-se em linha com Petit, e acabou por lhe roubar protagonismo de jogo defensivo. Katsouranis faz-me lembrar Paulo Almeida, com melhores argumentos é certo. É um jogador que pode ser útil pela sua polivalência, ou até para ser usado num meio campo mais defensivo para um jogo em que o Benfica jogue contra uma equipa com muita posse de bola, mas quanto a mim não tem lugar neste Benfica. E onde estava Katsouranis no lance do golo de Quaresma, quando devia compensar a subida de Léo?

Na segunda parte, ou Jesualdo Ferreira achou que tinha a vitória assegurada e tirou os seus jogadores mais irrequietos para os poupar para a importante recepção ao Besiktas, ou mais uma vez deu tiros nos pés nas substituições. Quaresma é aquele jogador que quanto a mim tem sempre de jogar, só não deve jogar quando o seu génio já não fizer falta, para ser poupado para outros jogos que ainda não estão ganhos. E Tarik é um jogador de qualidade rápido e irrequieto, que até ali andava a fazer o que queria de Luís Filipe. Diz-se que estavam os dois tocados, não sei se é verdade, mas pareceu-me um risco grande para Jesualdo abdicar dos seus jogadores mais perigosos no ataque. Por fim saiu Raul Meireles, substituição que eu antecipei, mas também não percebi. A verdade é que a mobilidade do Porto na segunda parte foi perdendo gás com as substituições, e a equipa viu-se dependente da capacidade de Lucho e Postiga em reter a bola. O Benfica subiu e podia mesmo ter marcado num lance fortuito. À posteriori funcionou, o Porto ganhou o jogo, e acabou-o dando descanso a algumas pedras importantes que serão titulares na próxima 4ª feira.

Foi uma vitória justa, e inequívoca diga-se, no entanto não me posso abster de comentar a arbitragem de Jorge Sousa. O Benfica não se pode queixar que perdeu por causa do árbitro, mas a arbitragem foi má. O principal prejudicado disto também não foi o Porto, mas o espectáculo e os adeptos que se deslocaram ao estádio para ver o jogo. Um Penalty não assinalado para cada um dos lados, mas o pior foi aquela arbitragem com critérios habilidosos, de beneficiar sempre o defensor, e tentar afastar ao máximo as decisões das áreas e zonas de finalização, apitando tudo o que podia no meio-campo. Os jogadores de ambas as equipas aperceberam-se disto na primeira parte, e começaram a usar da falta para defender. Não se viram amarelos por excesso de faltas, e o jogo teve muito pouco tempo útil. Este seria sempre um jogo sem Penaltys, ali na área valeria tudo, até tirar olhos. A sorte do árbitro foi que os jogadores se portaram muito bem, de outra forma teríamos um rol de casos para analisar durante a semana. Terá sido um frete para Jorge Sousa o golo do Porto, porque ele estava ali a apitar para o empate sem golos.

Convém também lembrar que este árbitro não tem muita experiência em grandes palcos, arbitrou já três jogos do Benfica esta época, que resultaram na derrota no clássico e mais dois empates. E por fim o árbitro Jorge Sousa, é da AF Porto, sendo a primeira vez que me lembro de um árbitro desta AF apitar um clássico do Porto. E ainda que um árbitro do Porto não me mereça pior credibilidade por vir donde vem, este árbitro em particular foi indiciado em duas situações do processo apito dourado, nos jogos Estoril – U. da Madeira, e Marco – Maia.

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