Simão e outras saídas

Simão foi o jogador mais desequilibrador do Benfica desde a altura em que o João Pinto carregava a equipa às costas. Apesar da sua formação no rival Sporting, rapidamente se tornou um ídolo da torcida Benfiquista, não só pela sua ímpar qualidade como praticante de football, mas também como um homem com carácter e que carregava a tão falada mística. Camacho deu-lhe a braçadeira aquando da sua primeira passagem pelo Benfica como sinal claro da confiança e das qualidades mentais do jogador. Não me lembro de alguma vez a braçadeira do Benfica ter sido envergada por um jogador formado no Sporting, e demonstra acima de tudo o profissionalismo do jogador. Durante o tempo que defendeu as cores do Benfica não se lhe conheceu um caso disciplinar ou um momento irreflectido, e foi um exemplo para todos os colegas, jogadores jovens e adeptos. Por tudo o que deu ao Benfica, compreendo que agora queira procurar uma situação melhor para si e para a sua família em termos financeiros. Um jogador de football tem uma carreira curta, e Simão confirmou recentemente que veio ganhar o dobro para o Atlético de Madrid.

Já no que diz respeito à ambição desportiva creio que isto foi um passo atrás na carreira de Simão. É certo que vai estar num campeonato muito mais visível, mas ainda assim, o Atlético é quanto a mim, uma equipa de reduzidas ambições para um jogador com a classe do Simão. Já o dizia Mourinho e concordo, que Simão, pela sua categoria, jogava em qualquer equipa do mundo. Não só é um espectacular desequilibrador e finalizador, como também juntava capacidades tácticas e de espírito de equipa que o tornavam num jogador importante até nas manobras defensivas.

Alem de tudo mais, convêm não esquecer nunca que ao contrário de outros jogadores queridos no Benfica, Simão saiu do clube pela porta grande. Manuel Fernandes mais recentemente, mas também Miguel e Tiago deixaram o clube de uma forma cobarde e nada elogiosa para o seu carácter como pessoas. Arrisco-me também a dizer que olhando apenas à sua qualidade como jogadores, nenhum deles tem a qualidade de Simão e em relação à sua personalidade não há comparações possíveis. No balanço que faço como adepto sobre quem deve mais, se é o clube ao jogador, ou o jogador ao clube, e analisando os casos destes três últimos jogadores – Manuel Fernandes é formado no Benfica e a ele deve a sua exposição internacional; Miguel viu a sua afirmação no Benfica, e foi Chalana que o adaptou à posição onde hoje surge até a jogar na selecção nacional; e Tiago que deu o salto quando se transferiu do Braga para o Benfica, onde realmente teve a visibilidade para suscitar o interesse do Chelsea. Este ultimo parece mesmo fazer regra, em criar conflitos e mau estar, em todos os clubes por onde passa, quando decide que está na hora de se transferir. Com o tempo pode ser que percebam com um passo em falso, que a ingratidão que tiveram para com o Benfica não os dignifica como pessoas, e nem os torna melhores jogadores, nem mais bem sucedidos. Saem em alturas em que são cobiçados, mas para singrar na Europa do football, para se adaptarem e afirmarem em planteis mais competitivos, um palmo de talento não chega. E pergunto eu: estarão Hugo Leal e Edgar arrependidos de deixar o Benfica numa altura da sua formação como jogadores e homens? Onde estão e que peso têm hoje nos planteis de clubes muito menos ambiciosos em Portugal?

Simão merecia sair, e saiu com categoria e boa imagem, mas o mesmo não se pode dizer de Luís Filipe Vieira. O Presidente do Benfica cumpriu a promessa a Simão, mas não salvaguardou completamente os interesses do clube. Se formos redutores pode-se admitir que o Benfica fez um bom negócio: investiu 12M€ em Simão, explorou-o desportivamente ganhando um campeonato e uma taça e vendeu-o por 20M€ com 27 anos, mais opção sobre dois jogadores do Atlético de Madrid. Mas vamos considerar um pouco para além do mais óbvio, algo que terá passado desapercebido aos media - Pinto da Costa rejeitou 25M€ do Atlético de Madrid por Quaresma!

Numa altura em que a Espanha e as suas mais diversas actividades económicas, seja em empresas de construção ou football, facilmente chegam a Portugal e compram as empresas Portuguesas em saldo, dando a imagem a “nuestros hermanos” que nós os Portugueses nos vendemos barato, depois de formarmos jogadores e empresas provavelmente com maior qualidade que os nossos vizinhos (no football inegavelmente melhores), facilmente nos deixamos convencer pelos milhões dos espanhóis. Os Portugueses têm dado a ideia que qualquer espanhol que atravesse a fronteira com uma mala cheia de dinheiro consegue comprar metade do país. Tem de se lhe tirar o chapéu a Pinto da Costa pela sua gestão, consegue vender à mesma os jogadores, mas quem os quiser comprar não os compra em saldo, compra-os aos preços a que são vendidos os craques dos melhores campeonatos da Europa. Num país que se vende barato, é o único que consegue valorizar o que aqui se faz de melhor sem complexos nacionalistas. Não é de admirar que os recordes de vendas de jogadores em Portugal pertençam ao F.C. Porto. Este ano o Porto prescindiu de dois jogadores de invulgar categoria: Anderson e Pepe. O primeiro esteve lesionado grande parte da época mas é um jogador de enorme talento com um futuro brilhante pela frente, o segundo era um central fundamental na manobra do Porto, e para mim o melhor central que actuava em Portugal, quiçá na Europa... O Real Madrid joga aberto e tem uma filosofia de football de ataque, coloca muitas unidades na frente permitindo também muito espaço na sua defensiva. Precisam dum central incaracterístico, daqueles que joga bem quer nos lances aéreos quer a travar contra-ataques contra os melhores avançados. Um central no Real Madrid, têm de ser um pouco pronto de socorro, ser rápido, compensar rapidamente as aberturas da defesa, e dobrar os seus companheiros que ficaram no ataque. Quer-me parecer que aí o Real acertou em cheio, Pepe viu a sua afirmação na época em que Co Adriense foi campeão a utilizá-lo como único central, e mostrou enormes qualidades a jogar com espaço.

O F.C.Porto perdeu dois jogadores que estarão no topo da Europa brevemente, mas em troca encaixou 55.5M€. Mais importante que isso, Pinto da Costa conseguiu manter aquele que é realmente o seu mais fantástico jogador – Quaresma, que é na minha opinião , o melhor jogador Português da actualidade. Ao rejeitar a oferta do Atlético de Madrid, duvido que inadvertidamente, precipitou a venda de Simão, e ganhou para F.C. Porto a hipótese de considerar perto da data do encerramento das transferências ofertas muito melhores por Quaresma. O Real Madrid e o Chelsea, ofereceram valores perto dos 35M€ e ainda Júlio Batista, e Paulo Ferreira. À semelhança do que se passou com Simão, Manuel Fernandes também foi uma segunda escolha do Valência. Pinto da Costa segurou Lucho, comprou a metade do passe que não lhes pertencia, e também aí o Valência virou-se para uma aquisição mais fácil, e até com maior potencial, e comprou o passe de Manuel Fernandes. O Benfica prescindiu do seu capitão, considerado o melhor jogador da época passada da liga Bwin pelo sindicato de jogadores, e daquele que parecia ser o principal reforço para esta época (Manuel Fernandes), um dia antes de um dos mais importantes jogos da época, onde o jogador aparecia convocado e adivinhava-se como peça fundamental; tudo isto por 29M€. Uma verba inferior aquela que o F.C. Porto conseguiu por um único jogador – Pepe. Ao segurar Quaresma e Lucho, e ao precipitar as vendas de Simão e Manuel Fernandes, Pinto da Costa, quase com um pé dentro dos calabouços, fez um duplo xeque-mate ao presidente do Benfica Luís Filipe Vieira.

O Sporting conseguiu vender Nani por 25,5M€, um valor consideravelmente maior que a sua cláusula de rescisão. As partes envolvidas foram honestas ao considerar que tinham um princípio de acordo para a revisão da situação contratual de Nani. Nani não foi no ano passado um jogador chave no Sporting, apenas na segunda volta se afirmou na titularidade, e apesar de não existir no Sporting actualmente um jogador com as suas características, o Sporting conseguiu mais 5,5M€ por um jogador que tem um enorme potencial, mas que ainda não é mais que uma promessa. Mais uma vez e em comparação com os encaixes dos rivais por jogadores que não têm a categoria de Simão, a venda ao Atlético de Madrid não foi um bom negócio. Alem do mais não me parece ser pela saída de Nani que o Sporting enfraqueceu o seu plantel, atendendo à qualidade de Vukcevic, Ismailov e até Derlei. O Sporting enfraqueceu-se ao deixar fugir Tello, ao não segurar Caneira, e ao vender Ricardo.

A nota positiva do Benfica vai para o facto de entre os 40M€ que conseguiu arrecadar em vendas neste defeso, 11M€ foram obtidos pelas vendas de passes de jogadores excedentários. Vender Simão por 20M€ não foi um bom negócio, mas vender Anderson, em conflito interno, por 4M€ ao Lion foi um excelente negócio.

Com essas vendas extraordinárias , eu pergunto-me se não teria sido possível também evitar os investimentos mal ponderados em jogadores que vieram para o Benfica fazer número, e em situação de “compre um craque e leve outro sul americano com ele”, caso de Bergessio e Diaz que vieram com Cardozo e Di Maria respectivamente, e canalizar esses fundos para uma melhoria significativa do contrato de Simão Sabrosa. Ou mesmo sabendo das saídas e dos encaixes financeiros que o Benfica realizou, não se teria conseguido contratar Miccoli definitivamente?

Penso que o presidente do Benfica depois das fragilidades demonstradas pelo plantel (pelo menos pelo atraso que leva na preparação), e dos encaixes realizados, estará arrependido do rumo que tomou. Perdeu a oportunidade de juntar jogadores de grande classe que saíram, com indiscutíveis craques que adquirimos, e de fazer os Benfiquistas sonhar justificadamente com voos mais altos. E que equipa teria o Benfica se o seu presidente tivesse conseguido juntar Simão e Miccoli a Cardozo e Di Maria!

2 comentários:

António disse...

Simão é paneleiro!

Anónimo disse...

"Football" é o bigode aristocrático do César!!