O Benfica contra o Naval e em Milão

Depois de vencer convincentemente o Naval por três bolas a zero, o Benfica foi jogar a Milan, e acabou por perder o jogo por (2-1). Noutro dia qualquer estaria particularmente triste com o resultado, porque entendo que o Benfica tem de entrar em campo para ganhar em todos os jogos, em toda a parte do mundo, mas existem atenuantes: enquanto o Milan se apresentou praticamente na máxima força, o Benfica faz a gestão daquela que é mais uma onda de lesões, que muito afectam principalmente os processos defensivos.

Contra o Naval o Benfica apresentou um bom football, mas teve também a sorte do jogo. Os primeiros dez minutos do Benfica foram fracos, e se o Benfica não tivesse tido aquele remate certeiro do Rodriguez, as coisas não teriam sido tão fáceis. Também nos últimos minutos o Benfica deixou-se dominar, e ai cabe uma palavra de apresso ao Naval, que depois de perceber que ia perder o jogo, se esforçou por praticar bom football, e apenas por azar nítido não conseguiram o tento de honra. As ocasiões de que o Naval dispôs na fase final da partida, podiam ter dado mesmo mais do que um golo. Aliás foi com surpresa que fiquei a saber que o treinador da Naval seria despedido após o jogo. A mentalidade portuguesa bate no fundo, quando um treinador não é apreciado por ter a coragem de vir praticar bom football à Luz, sem excessivas preocupações defensivas. Um treinador que tivesse vindo jogar com dez defesas e perdesse apenas por 1-0 teria sido despedido? Talvez assim se perceba porque é que os estádios das equipas pequenas tenham menos gente que uma sala de cinema.

A partida ficou marcada positivamente pelo espectacular golo de Rui Costa, e o regresso aos golos de Nuno Gomes. Mas o Benfica perdeu também neste jogo uma das pedras nucleares e dos jogadores mais insubstituíveis que tem – Petit!

Contra o Milan sem Petit, o Benfica começou de inicio com 4 jogadores que transitaram do plantel do ano passado apenas: Quim, Léo, Katsouranis, e Rui Costa. E com todas as lesões e chegadas tardias, este resultado até foi digno, considerando que foi mais um jogo de quase pré-época para uma equipa em construção.

A dupla de centrais, Miguel Victor e Edcarlos não tinham até à data jogos juntos, e nenhum deles tem mais de cinco jogos oficiais pelo Benfica. Luis Filipe tarda estabilizar o seu jogo em níveis de qualidade semelhantes aos que tinha em Braga, não fazendo esquecer Nélson. A Maxi Pereira foi dada a difícil e inglória missão de fazer esquecer Petit, com o apoio do inteligente mas limitado Katsouranis. Alem de todas as condicionantes de jogadores, o Benfica foi jogar contra o Milan bem aberto e com a mesma estrutura que tem jogado contra adversários mais fracos. O Benfica era por tudo isto, uma equipa limitada em termos defensivos, e ao contrário do que tenho lido, acredito que evitou um resultado mais dilatado, por competência de Quim, e pela capacidade de fazer circulação de bola em casa daquela que é para mim a equipa mais forte do mundo. Tecnicamente o Benfica esteve bem!

Ao jogar aberto o Benfica conseguiu circular a bola, e se o cabeceamento de Cardozo ao poste tivesse entrado a história do jogo podia ter sido outra. As equipas Italianas defendem bem, e para o Benfica ter conseguido criar perigo relativo, tem de ser dado mérito a Camacho pela atitude conquistadora e destemida que incutiu à equipa. Fico feliz, porque 80% dos jogos do Benfica serão contra equipas consideravelmente mais fracas, e essa atitude será determinante para conseguir vencer, jogar bom football ou mesmo golear, aquelas equipas que jogam fechadas para não sofrer golos. Ainda assim devo dizer que o esquema táctico de Fernando Santos bastante mais defensivo, conseguiu também bons resultados em casa com períodos de bom football, e devo também expressar as minhas dúvidas sobre se o Benfica sofreria aquele golo em contra-ataque em Milão, depois de um canto ofensivo. Mas o Benfica pode mesmo estar no bom caminho. E os tempos tristes em que o Benfica de Koeman jogava com quatro centrais, dois laterais e dois trincos já lá vão. Isto contra uma equipa muito inferior, e a jogar num estádio em que, não sendo a catedral, o Benfica tinha tanto apoio como em casa.

A nível individual a equipa continua com dois estupendos jogadores, Léo e Rui Costa, e aliados às surpresas agradáveis que tem sido para mim os reforços recém chegados, e a excelente forma de Quim, o Benfica reforça em mim esperanças de esta poder não ser mais uma época do “para o ano é que é!” . Também Nuno Gomes voltou aos golos, com o golo em Milan (obtido com interferência de Edcarlos em fora de jogo, é preciso dizer), são já dois jogos seguidos com golos do avançado Portugues. São boas notícias para o Benfica! Nuno Gomes é um jogador inteligentíssimo, que pela sua qualidade de movimento sem bola, tem permitido aos companheiros de ataque gozarem de espaço, mas um avançado quer-se também a resolver com bola, e Nuno Gomes tem estado com falta de confiança na hora de rematar. Com os golos surge a confiança para se inspirar, e também ele poder ter um papel mais importante na equipa.

Lembro-me de dizer entre amigos no café, quando o Benfica contratou Cristián Rodríguez, que não percebia o que um jogador excedentário do plantel do PSG podia trazer de novo ao Benfica. É com felicidade que verifico que estava enganado. Sem ser um poço de técnica o Uruguaio, é rápido, tem bom remate, e troca a bola com qualidade, a que não foi alheia a primorosa assistência para Nuno Gomes contra a Naval. Mas mais importante que tudo isso, é que o extremo, consegue para além de atacar, defender como poucos. Nestes dois últimos jogos do Benfica era incrível como o Cebola conseguia preencher o campo todo, e estar em jogo em todos os momentos do jogo. Camacho deve estar contente por ter um extremo que com a capacidade defensiva que empresta ao jogo, tem permitido jogar apenas com Petit e Rui Costa no miolo, com resultado muito agradável. Um concelho que dou a Luís Filipe Vieira é que devia ser ele também um pouco menos ingrato, falar menos*, e trabalhar mais, para adquirir imediatamente o passe do jogador Uruguaio, que está emprestado pelos seus empresários. Sobre pena de para o ano estar a jogar por um rival, como por exemplo o F.C.Porto habituado a manobras dessas, em mais uma demonstração de derrota perante o seu arqui-rival!

Maxi Pereira não tem os apontamentos ofensivos do compatriota, e é lento, mas ainda assim deixou-me apontamentos interessantes a fazer o lugar de Petit. Já o tenho dito várias vezes, não existe no plantel que transitou do ano passado nenhuma solução para fazer o trabalho de Petit. Com as chegadas de Maxi, Gilles, e Romeu Ribeiro, vamos ver se entre os três surge algum jogador com capacidade para tal. E devo também acrescentar que gostei da forma descomprometida como o médio Camaronês entrou no jogo em Milão.

Cardozo e Di Maria actuaram discretamente contra o Milan. O ponta de lança paraguaio apesar de muito ter corrido (varreu quase 8km segundo estatística da UEFA), ganhou em condição física o que perdeu em ritmo e entrosamento por não ter jogado com a Naval. E Di Maria depois de jogos muito promissores, mostra ter um talento invulgar, mas ainda não se evidenciou em lances produtivos que possam resolver uma partida.

Edcarlos ainda não mostrou ser alternativa credível no centro da defesa, e apesar de ter nascido de um passe disparatado de Miguel Victor , o contra-ataque do segundo golo do Milan (após um canto ofensivo), acho que o defesa formado no Benfica, merecia fazer parte do plantel como alternativa credível a Luisão, David Luiz e Zoro. Com cinco centrais e a hipótese de Katsouranis jogar também nessa posição, fica reduzido o espaço para ambos.

Quem tarda em afirmar-se condizentemente com o seu estatuto de competência adquirido em Braga é Luís Filipe. Apesar da assistência para o monumental golo de Rui Costa contra a Naval espero mais deste jogador. O Benfica não pode ter em campo um jogador a falhar a quantidade de passes que Luís Filipe falha.

O Benfica tem matéria-prima, mas têm também um plantel desequilibrado devido a lesões. O Sporting perdeu de uma assentada Derlei, e Pedro Silva, e logo se falou dos problemas decorrentes dessas lesões, que diminuem as opções de Paulo Bento. Imediatamente os comentadores desportivos se apressaram a prever a necessidade de contratar jogadores para o plantel leonino na reabertura de mercado. E nenhum dos dois jogadores é sequer nuclear no Sporting. O que aconteceria se o Sporting perdesse também Miguel Veloso e Polga? É com essas limitações que o Benfica tem jogado ultimamente.O Plantel não é mau, longe disso, e até diria superior aos outros dois candidatos, mas o Benfica para ser campeão não precisa de um plantel melhor que Sporting e Porto, precisa de um plantel muito melhor. É que as lesões sucedem-se em catadupa, e o Benfica para conseguir competir com os rivais dentro de campo, tem de ter soluções de recurso de igual qualidade aos adversários. O Benfica tem fora de competição Luisão, David Luiz, Zoro, Nélson e Petit, e se tivesse agora um clássico, tinha de ter substitutos para esses jogadores à altura de Polga, Bruno Alves, Bosingwa e Miguel Veloso.

* Em relação às declarações de Luís Filipe Vieira à saída para Milão, vou-me mais tarde pronunciar numa crónica dedicada.

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